Leia na íntegra a orientação do Arcebispo para as eleições:
Atenta à missão de auxiliar os cristãos no exercício de sua cidadania, à luz do Evangelho, em sintonia com o Papa Francisco que diz: todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção de um mundo melhor” (Evangelii Gaudium 183); e em comunhão com a CNBB que afirma: “É imperativo assegurar que as eleições sejam realizadas dentro dos princípios democráticos e éticos para que se restabeleçam a confiança e a esperança tão abaladas do povo brasileiro (Mensagem 56ª Ass. Geral –abril de 2018), a Arquidiocese de Juiz de Fora, na alegria de servir, oferece aos seus fiéis as seguintes orientações a respeito das atuais eleições.
1 – Por que não devemos deixar de votar?
Para os cristãos, o dever do voto é sagrado. Mesmo diante da situação desoladora que o País tem vivido nos últimos anos, não devemos nos deixar levar pela omissão. Assim diz a CNBB: Exortamos a população brasileira a fazer desse momento difícil uma oportunidade de crescimento, abandonando os caminhos da intolerância, do desânimo e do desencanto. (Ass. Geral 2018). Quando você não vota, está dando oportunidade para serem eleitas pessoas que você não gostaria de ver no governo. “É preciso votar! Campanhas em contrário podem gerar resultados inesperados, pois o voto em branco, o voto nulo e as abstenções não invalidam eleições” (Ass. Regional Leste 2, junho de 2018). Não deixe de votar.
2 – Como escolher bem um candidato (a)?
Antes de tudo é preciso conhecer a vida pregressa do candidato (a), ou seja, o seu passado. Saber se ele (a) é honesto (a), se não está envolvido com corrupção, ou seja, se tem ficha limpa, conforme a Lei 135/2010, que torna inelegível quem tenha sido condenado em decisão proferida por órgão judicial colegiado. Tal lei foi uma grande conquista do povo brasileiro, através da iniciativa popular da CNBB. Observar se o candidato tem histórico de atuação em favor de todos ou visa apenas sua causa própria. Saber se ele (a) é competente e preparado (a) para o cargo. Os eleitos (as) serão aqueles (as) que irão fazer e executar as leis que interferirão diretamente nas nossas vidas.
3 – Por que o Cristão não pode vender seu voto?
Porque tal prática é mãe da corrupção na política. É ela que elege pessoas corruptas e mal preparadas para cargos públicos. Muitas pessoas, ainda hoje, como no tempo do coronelismo, vendem seus votos. Quem nunca ouviu falar de alguém que trocou o voto por cesta-básica, gasolina, botijão de gás, jogo de camisas de futebol, materiais de construção? Isso “é um modo de ver a política como um meio de obter vantagens de um patrono, qualquer pessoa que tenha ascendência política sobre uma comunidade”, afirma o Juiz Marlon Reis, Diretor e co-fundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. Já é conhecido o dito: voto não tem preço, mas tem consequências.
4 – Porque o Cristão não deve votar em candidato que apoia a Ideologia de Gênero?
A Igreja respeita todas as pessoas sem distinção de qualquer espécie. Porém, tem o dever de alertar seus fiéis sobre os perigos de falsos conceitos ideológicos. A ideologia de gênero tenta impor à sociedade, sobretudo às crianças e jovens, que ninguém nasce homem ou mulher. Ensina que a identidade sexual é uma construção pessoal e cultural. Tal ideologia, como afirma o Papa Francisco, “é contrária ao plano de Deus; é um erro da mente humana que provoca muita confusão e ataca a família” (Nápolis-2015). A ideologia de gênero fere os conceitos científicos e é contraria à ordem natural.
Verifique se seu candidato defende a família em seu conceito original, considerando-a como célula-mater da sociedade, onde pai, mãe e filhos (as) formam comunidade de amor e mútuo compromisso, escola de ética e moral e que possa reger-se, livremente, pelas suas convicções religiosas.
5 – Por que o cristão não pode votar em candidatos ou partidos que são contra a vida e a favor do aborto?
Porque o aborto é assassinato de seres humanos inocentes e indefesos. Fiel a Cristo, à ciência, e aos direitos humanos, a Igreja defende que a vida humana deve ser respeitada e protegida, de maneira absoluta, desde o momento da fecundação até a morte natural, pois trata-se de uma nova vida que, gerada no ventre da mãe, não é parte de seu corpo, mas outra pessoa que merece viver. A Igreja defende a vida de ambos: mãe e filho(a). Ela ensina também que não só a vida dos nascituros deve ser protegida, mas também a vida dos jovens, dos adultos e dos idosos, devendo haver políticas públicas que promovam a vida de forma abrangente.
Jesus Cristo veio para “que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
6 – Quais necessidades do povo devo considerar na escolha do meu candidato?
Saúde, educação, segurança e trabalho, dentre outras também importantes. Escolha candidatos que tenham compromisso e reais propostas para resolver os problemas destas áreas, em nosso País
7 – Enquanto eleitores, o que podemos fazer para termos um país mais humano
É necessário escolher candidatos que apresentem programas voltados, sobretudo, para a promoção humana, saúde, educação, segurança e trabalho para todos, a fim de retirar muitas famílias brasileiras da situação de pobreza e a todos proporcionar paz e bem-estar social.
8 – O que são as fake news?
O termo em inglês, fake news, significa ‘notícias falsas’, mentiras divulgadas como se fossem verdades. No âmbito político, aparecem nas redes sociais para espalhar informações falsas, distorcidas e maliciosas sobre algum candidato, para confundir a sua decisão. Portanto, tome cuidado com o que você vê, ouve ou compartilha, principalmente no seu celular. Assim vamos defender o exercício democrático de votar e eleger nossos representantes. Observe também se, em eleições passadas o candidato mentiu para ganhar eleições. Se ele teve esse procedimento, não merece nossa confiança e nem nosso voto.
9. O que devemos fazer depois das eleições?
Após as eleições, duas atitudes os cristãos devem ter: apoiar o candidato vencedor quando ele, de forma honesta, fizer coisas boas; e acompanhar a política no dia a dia para impedir que aconteçam injustiças, corrupção ou qualquer coisa que venha a ferir a dignidade dos cidadãos. Sobretudo, deve cobrar ações em favor do bem comum.
10– O que tem a ver nossa fé com política?
Todo cristão é também cidadão, ou seja, membro de uma comunidade civil. Isso faz parte dos planos de Deus, pois Ele criou a pessoa humana para viver em comunidade e não isoladamente. O cristão deve também ter muito cuidado em não ofender as pessoas, mesmo quando elas pensam diferente dele, evitando agressões com palavras e ânimo exaltado. A serenidade e as boas maneiras são sinais também da fé em Cristo que nos ensinou a amar a todos, até mesmo os inimigos (cf. Mt 5, 44).
Por fim, quem é cristão, deve se colocar diante de Deus, em oração sincera, pedindo as luzes do Espírito Santo para escolher corretamente a quem deve confiar seu voto. Jesus disse: Até agora nada pedistes! Pedi e recebereis, para que vossa alegria seja completa. (Jo 16, 24) e ainda: Se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu saberá dar o Espírito Santo aos que lho pedem. ” (Lc 11, 13),
Deus, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, abençoe a todos nós neste momento importante de nossa Pátria brasileira.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz Fora
(Texto aprovado pela Pastoral Arquidiocesana de Fé e Política).
Juiz de Fora, setembro de 2018