A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a dependência em drogas lícitas ou ilícitas é uma doença. O uso indevido de substâncias como álcool, cigarro, crack e cocaína é um problema de saúde pública de ordem internacional que preocupa nações do mundo inteiro, pois afeta valores culturais, sociais, econômicos e políticos.
O alcoolismo é uma doença crônica, com aspectos comportamentais e socioeconômicos, caracterizada pelo consumo compulsivo de álcool, na qual o usuário se torna progressivamente tolerante à intoxicação produzida pela droga e desenvolve sinais e sintomas de abstinência, quando a mesma é retirada. Além da já reconhecida predisposição genética para a dependência, outros fatores podem estar associados: ansiedade, angústia, insegurança, fácil acesso ao álcool e condições culturais.
PÓS-PANDEMIA
Guilherme Veiga, psiquiatra do Hospital Universitário de Brasília da Universidade de Brasília (HUB-UNB/ Ebserh), adverte que ainda estamos vivenciando reflexos da pandemia. “Ainda estamos lidando com as consequências daquelas pessoas que iniciaram o uso disfuncional de substâncias psicoativas durante a pandemia ou que aumentaram o seu consumo durante esse período. Temos lidado, também, com aquelas pessoas que já estavam abstêmias antes da pandemia, mas que voltaram a usar a substância neste período.”.
Alexandre de Rezende, psiquiatra e coordenador do Ambulatório de Álcool e Drogas do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF/ Ebserh) concorda que a pandemia trouxe uma certa modificação no padrão de consumo, inclusive aumentando a prevalência de alcoolismo entre mulheres.
“Pode ser que daqui alguns anos, a gente venha a perceber o aumento da prevalência da dependência de álcool. Tivemos com a pandemia um aumento do consumo de ansiolíticos (calmantes utilizados para tratamento de ansiedade), assim como o aumento de maconha e do uso de outras substâncias. Então, o impacto que isso ocasiona é a possibilidade de aumento da prevalência da dependência dessas substâncias. ”, afirma Alexandre.
ACOMPANHAMENTO MULTIPROFISSIONAL
A dependência química, não é somente o uso disfuncional de substâncias, é uma doença, um transtorno mental muito grave, que pode causar um impacto muito significativo para a vida da pessoa e de muito difícil abordagem. Por isso, se faz necessária uma boa intervenção por uma equipe multiprofissional, para abordar esse problema complexo, com os múltiplos olhares.
FAMILIARES E AMIGOS
Você já deve ter ouvido que a família toda também adoece, quando há um dependente químico no núcleo familiar, por isso adotar uma postura de acolhimento, suporte e compreensão é sempre o primeiro passo.
Os especialistas concordam que é necessário que a família compreenda que a dependência de substâncias psicoativas não é uma escolha, mas uma doença complexa, que precisa ser tratada.
“Ofertar ajuda emocional, mas também, diretiva de que a pessoa necessita de suporte profissional e de que é possível sair daquela situação é importante. Para familiares e amigos é necessário também a paciência e a compreensão para se lembrar que não é sempre na primeira oferta de ajuda é que o paciente a aceitará”, defende o psiquiatra.
PROCURE AJUDA
Se identificar como dependente não é tarefa simples. Mas os especialistas alertam para não ignorar qualquer tipo de incômodo: para você, para as pessoas que estão ao seu redor, seu funcionamento no trabalho ou seu relacionamento com a sua família.
Para identificar a presença de sintomas de abstinência é necessário observar: a tolerância (que é a necessidade de usar quantidades cada vez maiores daquela substância, para obter o mesmo efeito), ou uma perda do controle, sobre a quantidade que se usa e a hora de parar; uma vontade muito grande de usar; aumento do tempo gasto, seja pra usar substância ou pra se recuperar dos efeitos; negligência contra outros interesses e atividades e a necessidade de continuar usando as substância mesmo diante da percepção das consequências nocivas desse uso.
“É muito importante destacar que o uso de álcool, o uso de tabaco e, até mesmo, uso de substâncias consideradas ilícitas, estão presente na nossa sociedade, de alguma forma na nossa cultura e, muitas vezes, é difícil para o próprio indivíduo perceber o quanto que aquilo está impactando negativamente na vida da pessoa. Então, quando você percebe que está perdendo o controle e prejudicando sua capacidade de determinação, significa que está na hora de pedir uma ajuda. ”, afirma o coordenador do Ambulatório de Álcool e Drogas do HU-UFJF.
Alexandre tranquiliza contando que o mais importante é lembrar que tem tratamento. “Existem formas, de você fazer o enfrentamento dessas substâncias. Então, o mais importante é ter um espaço de acolhida, em que você pode receber apoio ajuda suporte para enfrentamento dessa condição.” Guilherme finaliza: “Quanto antes se der o início do acompanhamento, menores serão as repercussões clínicas, funcionais e interpessoais.”.
CIGARRO x CIGARRO ELETRÔNICO
Segundo os especialistas, é possível notar a redução do tabagismo e prevalência do alcoolismo. Em contrapartida, é possível notar aumento no consumo de cigarros eletrônicos, principalmente na população mais jovem.
“Esse aumento do uso de cigarro eletrônico, além de ter um impacto na saúde mental, no sentido de levar uma maior dependência do cigarro, tem impactos importantes da saúde, como problemas respiratórios, dentre outros problemas de saúde física.”, salienta o psiquiatra do HU-UFJF.
Maconha
O uso crônico de maconha está associado a problemas respiratórios, já que a fumaça é muito irritante e seu teor de alcatrão é muito alto, além de conter benzopireno, substância cancerígena. As conseqüências do uso da maconha são semelhantes aos do tabaco: hipertensão, asma, bronquite, cânceres, doenças cardíacas e doenças crônicas obstrutivas aéreas. No caso de pessoas com transtornos psicóticos (pré-existentes) pode ocorrer um agravamento do quadro, como a esquizofrenia, exigindo assim mudanças no tratamento da doença psiquiátrica. O uso regular acarreta problemas cognitivos como: comprometimento do rendimento intelectual, perda de memória e na habilidade de resolver problemas. A abstinência é caracterizada por: ansiedade, insônia, perda de apetite, tremor das mãos, sudorese, reflexos aumentados, bocejos e humor deprimido.
Cocaína
A cocaína é uma substância psico-estimulante que é consumida de diferentes formas: aspirada, via intravenosa ou fumada (crack). O consumo da cocaína em grande parte dos usuários aumenta progressivamente, sendo necessário consumir maiores quantidades da substância para atingir o efeito desejado. No Brasil, a cocaína é a substância mais utilizada pelos usuários de drogas injetáveis. Muitas dessas pessoas compartilham agulhas e seringas e expõem-se ao contágio de várias doenças como hepatite e Aids.
Crack
O crack é resultante da mistura de cocaína, bicarbonato de sódio ou amônia e água destilada, resultando em grãos que são fumados em cachimbos. O consumo do crack é maior que o da cocaína, pois é mais barato e seus efeitos duram menos. Além disso, tem terrível ação sobre o sistema nervoso central e cardíaco.
Anfetaminas
São drogas sintéticas de efeito estimulante do sistema nervoso central e só podem ser comercializadas sob prescrição médica. Um tipo de anfetamina ilícita não encontrada em farmácias é a droga conhecida por êxtase, que provoca dependência fazendo com que o usuário tenha de consumir maiores quantidades de comprimidos para obter os mesmos efeitos. O uso indevido e prolongado pode provocar alterações psíquicas, lesões cerebrais e aumento do risco de convulsões e overdose.
Calmantes e sedativos
Os medicamentos capazes de diminuir a atividade do cérebro são chamados de sedativos, já os que são capazes de diminuir a dor são conhecidos como analgésicos. Os hipnóticos ou soníferos são os sedativos capazes de afastar a insônia, já os ansiolíticos têm o poder de atuar sobre estados exagerados de ansiedade.
Tratamento
Quem necessita de tratamento no SUS devido ao abuso de álcool e outras drogas deve procurar as Unidades Básicas de Saúde (UBS), os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III (CAPS AD). O atendimento conta com equipes multiprofissionais compostas por médico psiquiatra, clínico geral, psicólogos, dentre outros.
O CAPS de Santos Dumont existe há 23 anos e atende toda a região, área rural e os municípios de Oliveira Fotes, Aracitaba, Ewbank e Bias Fortes e está localizado à Rua Francisco Ladeira, 52, Centro. Informações pelo telefone (32) 3251-5284.
Fontes: Hospital Felício Roxo, Instituto Materno Infantil de Pernambuco, HU-UFJF, HUB-UNB